"Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos." (Albert Einstein)

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sábado, 3 de outubro de 2009

LINGUAGENS: O ensino brasileiro vai mal


O melhor termômetro para aferir o grau de aprendizado de um estudante é, segundo os especialistas, sua capacidade de ler e interpretar um texto: quanto mais precária ela for, mais difícil será para ele absorver conhecimento em outras matérias. Segundo tal critério, o ensino brasileiro vai mal. Muito mal. De acordo com o Ministério da Educação, 91% dos estudantes brasileiros terminam o ensino fundamental abaixo do nível adequado, apresentando dificuldades para reter ou compreender textos básicos. Ou seja, as escolas brasileiras têm-se mostrado incapazes de cumprir sua função mais elementar, a de municiar alunos com a ferramenta da leitura.

Para entender por que isso ocorre, VEJA pesquisou as dez escolas públicas cujos alunos apresentaram as melhores performances na prova de língua portuguesa aplicada pelo MEC para medir a qualidade de ensino nas escolas. Elas foram classificadas por ordem de excelência pelo professor Francisco Soares, da pós-graduação em educação da Universidade Federal de Minas Gerais. VEJA submeteu cada uma delas a um questionário com dezoito perguntas, elaborado por especialistas, com o objetivo de identificar suas características.

Os resultados revelaram que as campeãs brasileiras têm em comum o fato de adotar, sistematicamente, o investimento na formação de professores, o estímulo à participação dos pais na vida escolar dos filhos e o incentivo à leitura por parte dos alunos. De certa forma, seguem a trilha coreana.

Das dez escolas classificadas no ranking do ensino, todas têm bibliotecauma realidade em apenas 20% dos estabelecimentos de ensino básico no Brasil. Oito delas exigem de seus alunos a leitura de pelo menos cinco livros não didáticos por ano — as outras duas estabelecem um mínimo de quatro títulos obrigatórios no período (ainda assim, é o dobro da média nacional). No que diz respeito à formação do corpo docente, todas, sem exceção, têm 100% de seus professores munidos com diploma de ensino superior ou cursando uma universidade. Para completar, estimulam o que parece ser uma das chaves para o sucesso do aprendizado: a participação dos pais na vida escolar dos filhos — uma prática lamentavelmente incomum no Brasil.

Um estudo feito no ano passado em quarenta países pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que as famílias brasileiras, de todos os extratos sociais, estão entre as menos interessadas na educação de seus filhos. É o oposto do que ocorre em países como Coréia do Sul e Hong Kong, modelos nesse tipo de iniciativa — não por coincidência, são campeões de eficiência no ensino. “Uma boa gestão escolar desencadeia um ciclo positivo no qual os pais participam, os professores têm estímulo para ensinar e os estudantes recebem aulas mais atraentes. A lição é simples”, resume o ex-ministro Paulo Renato Souza.

“Participação familiar”, sublinham especialistas, não quer dizer comparecer à festa junina da escola. Significa envolver-se com a vida escolar dos filhos e acompanhar de perto tanto seus progressos como suas deficiências.

O Brasil está entre os países que menos gastam com o ensino básico. Na América Latina, fica atrás do Uruguai e do México. Experiências como as identificadas no estudo do professor da UFMG, no entanto, demonstram que melhorar a qualidade do ensino básico é menos uma questão de investimento financeiro do que de opção social e política. Ao perseguir o equivocado projeto de “democratizar” o ensino superior, o governo federal mostra que já fez a sua. Na escala oficial de prioridades, o ensino básico que hoje se oferece a 55 milhões de brasileiros — e que será o diferencial para perpetuar ou romper o ciclo vicioso que faz com que os ricos entrem na universidade e os pobres permaneçam de fora — continua ocupando a lanterninha.


(Trechos do texto de Mônica Weinberg, Na trilha Coreana - Site Educar para Crescer)

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