"Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos." (Albert Einstein)

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quarta-feira, 31 de março de 2010

Vou-me embora pra Pasárgada, by Manuel Bandeira

Interessante esse poema, embora muitos não o tenham compreendido. Hoje, ao café na escola, meu colega Edgar saiu-me com essa: "É... quarquer dia Vou-me embora pra Pasárgadalá sou amigo do rei..." . Ele falou com tanta convicção que parecia que Pasárgada realmente existia. E eu, por dentro, tive uma vontade de ir-me também pra Pasárgada... Ao escutá-lo com tão repentina afirmação, ri. Só que no fundo eu queria ir também.



Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
 
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
 
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
 
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
 
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der

Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

 Edgar

Um comentário:

  1. "vou-me embora pra Pasárgada"
    sempre que o 'trem' vier
    lá mesmo para os inimigos do rei
    há um decreto de parágrafo único
    &- os dias não anoitecem
    e as noites amanhecem -

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